# Cantar pela vida*


Durante aquela tarde fria, foram vários os senhores idosos que por mim passaram. Alguns apressados, apenas vinham relaxar um pouco a pressão constante da cidade, outros mais calmos, paravam durante horas. Tomavam um café bem quente, liam o jornal e aproveitavam para pôr a conversa em dia. Falavam de política. Todos criticavam o governo, queixavam-se da crise, bem como do estado deplorável do nosso país. Discutiam futebol, comentavam as notícias e histórias de vida de cada um. Porém, um senhor já visivelmente de bastante idade permanecia em silêncio durante a tarde toda. Ele apenas bebera o seu chá e não fizera mais nada a não ser olhar para a igreja que se situava há poucos metros de nós. Intrigada, perguntei-lhe se estava a sentir-se bem. Do nada, ele levantou-se, pegou na minha mão e levou-me com ele. Sem saber o que fazer ou sequer dizer, segui-o com curiosidade. Caminhávamos devagar quando subitamente, ele parou. Sentou-se num banco de madeira junto ao adro da igreja e começou a cantar. Uma voz grave e intensa saía daquela boca. Fiquei hipnotizada por aquele canto que numa língua desconhecida me transmitia algo de tão comum, o amor pela vida. Mal ele acabou a sua música, peguei na sua mão e começamos a dançar ali mesmo, sem música mas com muita felicidade.

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