**

Era um domingo como todos os outros. Tinha acabado de me despedir dos meus pais e entrava silenciosamente no autocarro ainda vazio. Sentei-me como sempre o fiz, no lugar do meio, junto a janela. Encontrava-me perdida em pensamentos bem longínquos quando inesperadamente um jovem decide sentar-se ao meu lado. Era um homem robusto e alto, os olhos dele pareciam dois berlindes negros e o cabelo estava geometricamente bem rapado. Não me interpretem mal, este jovem provocou em mim um sentimento de medo mas não de desagrado. Diria até que foi o oposto. Mal ele se aproximou, senti-lhe logo o cheiro. Aí doce cheiro a frango de churrasco. Bem sabem o quanto adoro frango de churrasco e infelizmente já não como há demasiado tempo. Porquê que ele cheirava tão fortemente? Porquê que eu desejei comer por completo aquele frango inexistente? Tentei controlar-me e pensar noutra coisa, mas o cheiro penetrava-me por completo.

**

Cada parte do meu corpo continua a procurar por ti quando chega a noite e o frio instala-se no meu gelado coração. A maior parte dos dias não sou capaz de entorpecer porque me corres nas veias e tudo o que me envolve, evoca-me as promessas de carinho eterno que trocamos há um tempo remoto demais. Assombras-me todas as noites em que acordo embebida em lágrimas depois de te ter visto partir de novo, num mau sonho que o caça-sonhos voltou a não recolher. Uma parte de mim será sempre tua. O meu coração sempre associará o teu nome às melhores coisas da vida. Continuarei a desejar-te até aos meus últimos dias e a fantasiar com o futuro que teríamos juntos se não tivéssemos desistido de lutar. E, é por amar-te tanto assim, que decidi que não iria voltar a prender-te. Já não me pertences, já não me queres pertencer. Devolvo-te aquilo que é teu por direito, a liberdade. Espero que essa liberdade te traga aquilo que eu não te consegui oferecer, espero que sejas realmente feliz. Sabes bem que mereces mais do que qualquer outra pessoa a felicidade, por isso, luta por aquilo que te faz realmente feliz, luta por aquilo que acreditas, luta pelo amor. Não te deixes influenciar por pessoas alheias, elas não sabem nem metade do que passaste na vida, nem metade do quanto sofreste, por isso, não as escutes. Escuta o teu coração. Ele é puro e sincero, ele saberá onde te levar. 

# Promete-me*

Promete-me que vais encontrar alguém e vais ser capaz de amar. Promete-me que vais conhecer e apaixonar-te por uma rapariga que te respeite. Promete-me que ela vai sempre apoiar-te e nunca julgar-te. Promete-me que vais ser feliz ao lado dela e que ela vai entender que precisas do teu espaço, que tens que ter momentos sozinho, que necessitas de estar com os teus amigos, que gostas de jogar, que tens crises de medo, que não sabes bem lidar com o stress, que és frágil, que te fazes muitas vezes de forte, que gostas de competir e ganhar. Promete-me que essa rapariga vai saber pelo menos o nome de três escritores portugueses e de dois estrangeiros. Promete-me que ela vai conseguir fazer-te gostar de ler e sonhar com ela. Promete-me que ela estará disposta a abdicar de tudo por ti, que não terá medo de te beijar em público, que saberá o teu nome completo e todas as datas importantes da tua vida. Promete-me que ela vai ser inteligente, madura e sobretudo sincera. Promete-me que ela vai gostar de música e partilhar contigo um café a qualquer altura do dia ou da noite. Promete-me ainda, que ela nunca te vai mentir, que ela te fará sorrir, que ela te fará rir as gargalhadas e chorar de felicidade. Por fim, peço-te que me prometas que ela vai-te amar tanto como eu amo-te. 
Por favor, promete-me que serás feliz!

**

Estou sentada no parapeito de uma casa que não é a minha. Permaneço à tua espera. Porque não me vens abraçar? Porque não vens simplesmente e ficas comigo?
Escusas de falar, escusas de dizer aquilo que eu quero ouvir, anda e faz-me companhia.
Espero-te sem nunca desesperar.
A casa da avó é quente e o sol faz-se sentir lá fora.
Vamos beber café e relembrar o amor.
Vem, por favor!

**

Olhaste-me decididamente, como se a tua existência dependesse daquele instante. Não pestanejavas, nem tão-pouco desviavas o olhar de mim. Senti-me tremer, não sei ao certo se do frio ou da proximidade dos nossos corpos. Vi-te aproximar ainda mais, estremeci de novo. Estendeste-me o teu braço e eu agarrei-te, sem medo. Abraçamo-nos primeiramente de leve e logo de seguida, com todas as nossas forças. Era o abraço que ambos sonhamos durante a semana inteira, aquele que ambos exigíamos um do outro. Apertava-te contra mim cada vez mais forte, não desejava que me largasse e muito menos, queria soltar-te. Sentia o pulsar do teu coração. O ritmo era violento, descontrolado, um pouco como nós. Respirei fundo e afaguei os teus cabelos despenteados. Veio-me o cheiro do teu shampoo. Desejei beijar-te, desejei ficar ali para sempre. Contudo largamo-nos. Separamo-nos e ficamos estáticos, um ao lado do outro, com os pés húmidos de um chão ainda mais molhado do que os meus próprios olhos. Queria que me beijasses, queria que me dissesses que me amavas. Pedi um milagre naquele momento. Começamos a andar com um passo decidido em direção ao teu carro. Estava frio mas eu senti-me ferver por dentro. Sabia que já nem um prodígio me salvaria. Fitei em silêncio a escuridão daquela noite. Prendia as lágrimas sistematicamente, quando senti um suave toque no ombro. Pensei que fosse apenas uma reação descontrolada do meu corpo e não me mexi. No entanto, o toque aumentou de intensidade. Não havia dúvidas possíveis. Eras tu que me estavas a confrontar. Timidamente, virei-me para ti, e sem esperanças, o inesperado aconteceu. Beijaste-me. Os teus lábios trémulos sabiam a amor. Foi um beijo ofegante, um beijo de paixão, um beijo que significava tudo menos uma despedida. Mas despediste-te e foste-te embora, levando contigo o meu beijo de eterno e imutável amor.

**

Deito-me sem ti.
Deito-me por entre recordações e memórias.
Deito-me junto ao vazio que deixaste.
Deito-me sem forças, sem esperança, sem vontade de viver.

**

O fumo do teu cigarro enchia o carro de uma neblina escura e pesada. Não me incomodava, nem tão-pouco me causava qualquer tipo de frustração. Já estava habituada ao fumo depois do encontro dos nossos corpos. Gostava de sentir esse vapor que nos envolvia. O bafo era amargo, mas nós, sim nós, erámos tão doces naqueles instantes que se seguiam a nossa entrega, pura e crua, de um amor eternamente nosso. Ai, que amor lindo, este que sinto por ti. Suspiro apaixonadamente, amo-te tanto.

**

Ofereceste-me a rosa que nunca murcha e eu dei-te, em troca, o amor que nunca morre...

**

Cabelo cor de petróleo, despenteado sobre a almofada.
Sorriso torto e dentes afiados sobre o meu peito.
Abraçados num só, desenhava uma linha que ligava cada sinal existente no seu corpo.
Formava assim pequenos triângulos isósceles.
Beijei o espaço que os delimitava.
Ele grunhiu de prazer, rendendo-se ao meu ser, rendendo-se ao amor.

**

Quantos mais pedidos de ajuda terei eu que fazer para que alguém me venha socorrer? 
Quantas mais tentativas irão culminar em falhas?
Quantas mais lágrimas vão cair até perceberem que estou pior do que todos pensam?
Pergunto-me até, será que ainda há solução possível para mim?
E do nada, ou talvez do tudo, a lágrima soltou-se sem necessidade de outra resposta.

**

Sei que ando longe, bem longe daqui. Ando perdida num sistema complexo, entre Marte e Júpiter. Sinceramente, não sei onde me encontro, não sei onde me localizo. As estrelas brilham todas da mesma maneira, todas com a mesma intensidade nesta galáxia. O meu único ponto de referência é a pequena garrafa de vidro que deitei ao mar, essa sim, que ainda permanece na Terra, enquanto eu, subi aos céus.

# Um metro e setenta e nove*


Um metro e setenta e nove. Apenas cento e setenta e nove centímetros chegaram para mudar completamente a minha vida. Querem conhecer a minha história? Eu conto-vos como tudo aconteceu, mas aviso-vos com antecedência que este livro não é pêra doce mas antes uma maçã dura de roer. Sei que a maioria dos leitores me vão julgar, no entanto, os restantes irão entender o que me levou a cometer esse crime, a que eu chamei de libertação por amor. Estão preparados? Então cá vai, chamo-me Peyton e esta é a minha história… Só vos peço, não chorem, porque eu prometi sorrir até ao fim.
(excerto de uma historia por acabar… Kelly Rocha)

**


Quando cortam as assas a uma borboleta, o que lhe acontece? Ela deixa de voar e morre de imediato? Ou simplesmente vive com essa deficiência para o resto da sua mera estadia na Terra? Será que ela se acostuma ou deixa-se levar pela desilusão?
Eu sou uma borboleta, cortaram-me as assas e não sei voar…

# Luz, acção*

Faltam cerca de duas horas para o espectáculo começar. Ela entra pela primeira vez no átrio. Treme pelo corpo todo. Talvez seja do frio, talvez do nervosismo. Talvez ambos. O ensaio geral prepara-se lentamente, os técnicos organizam a sala, as luzes começam a vacilar e a música a tocar. O ambiente faz-se tenso e pesado. Escondida atrás da cortina vermelha, ela fita em silêncio a sala que se estende diante dela. Dentro de poucos minutos, esta sala encherá e terá mais de mil pessoas a contemplarem o seu rosto, os seus gestos, a sua roupa. A verdade é que isso não a assustava, ela não temia o público, mas sim a ausência de um espectador nesse público. Havia um lugar vazio, o lugar que ela observava sistematicamente, já há horas que permanecia sem ninguém. A música suavemente desperta, e com ela, todos os olhares se posam sobre a jovem. A jovem de olhos escuros dança, dança e dança. Quando a actuação chega ao fim, ela sente-se terrivelmente cansada, está petrificada em cima do palco e comovida de tantas emoções. Levanta aos poucos os olhos para os espectadores, eles levantam-se para ela, ouve-se assobios e aplausos. Ela sorri, e subitamente descobre que ele esta ali, de pé e a sorrir também. 

# Amar-te-ei*

Desejarei sempre reviver-me de ti.
Precisarei constantemente recordar-me de nós.
Amarei-te mesmo depois do meu coração deixar de bombear o meu sangue, mesmo depois do meu sangue já não ser vermelho, cor de paixão.

Lembrar-me-ei eternamente daquela noite. O luar reflectia-se sobre o meu corpo nu que tu ias explorando lentamente. Recordar-me-ei, até aos meus últimos instantes, o aconchego dos teus braços, o calor do teu peito e o sabor do teu desejo. Imaginar-me-ei novamente na mesma cama do que tu, a cada dia, partilhando o mesmo sentimento e consequentemente a mesma necessidade de te ter perto de mim e dentro de mim até ao meu derradeiro gemido de prazer, adormecendo, de seguida, junto ao teu sorriso, após o beijo de despedida.

**


Voltei a abrir a gaveta que outrora foi fechada. 
O perigo soltou-se, bem como a saudade.

# Pequeno lar*

Era um pequeno jardim repleto de rosas vermelhas, cravos e camélias brancas. Ao longe, conseguia entrever um lar iluminado apenas pelo luar e escondido por detrás de um velho sobreiro. Era uma casa antiga. Estava preenchida por memórias de um passado longínquo e misterioso. Era aquilo que ele outrora abandonara com medo de morar perto do lago da verdade. Cheirava a flores silvestres e a frutos proibidos. Havia um aroma exótico e ao mesmo tempo demasiado doce para penetrar naquele cantinho de vida de um vez só. Não sei ao certo quanto tempo passara desde que ele deixara de vez esta pequena habitação. Olhando para as persianas, avistava uma camada espessa de pó e teias de aranhas, diria talvez que demasiado tempo se tinha passado desde a sua última visita. Atrevi-me a aproximar-me da porta de entrada, tentei abri-la mas faltava-me a força necessária para entrar assim, sem autorização. Ele estava ao meu lado, os olhos cheios de pequenas gotas de um líquido incolor e salgado, lágrimas, deduzi. Será que este reencontro estará a doer-lhe assim tanto? Temia com todo o meu ser que ele se fechasse, que ele me empurrasse de novo para longe, mas ele deteve-se e pegou na minha mão molhada devido aos nervos e ao calor desta noite de verão. Levou-me para o lado oposto da casa. Lá, estendia-se uma relva perfeitamente cortada e alinhada, como se o tempo se tivesse esquecido de passar por aquela imaculada parte. Ele deitou-se lentamente na relva, respirando o ar puro e singelo que nos vinha acariciando as faces, puxou-me para junto dele, e deitei-me ao seu lado, tranquilizada. Ficamos ali, estendidos num lugar onde as memórias doíam e onde unicamente a verdade curava. Não nos mexíamos, não falávamos, estávamos juntos e isso bastava para conseguir aguentar com os fantasmas de um passado. 

**

Eram dois pequenos peixes. 
Não tinham barbatanas, mas sim um coração dividido em quatro cavidades.
 Duas aurículas e dois ventrículos, porém apenas um amor.

**

As suas asas cor de ferrugem estão pesadas e a sua respiração torna-se lenta. Mal consegue voar e muito menos respirar. Não se mexe, nada sente. Permanece quieto, os olhos encarnados fixos em mim. Consigo absorver a dor, e o grito no seu silêncio. Ele precisa de voar daqui para fora, ele precisa de voltar para juntos dos seus. Devolvo-lhe a liberdade ou deixo-o morrer por mim?

# Re(viver)*


Estou presa no universo das palavras. Não consigo avançar nem retroceder. Não consigo mover-me e já há horas que estou a tentar libertar-me. As subclasses tentam consumir-me. Agarram-me, balançam-me e sussurram-me ruídos semelhantes a insultos. As palavras começam a escassear. A caneta está gasta e os meus dedos estão a fazer nós brancos de tanta força usarem para agarrarem somente a esferográfica. Não sei o que fazer, pensar ou sequer acrescentar. Na folha branca de papel, escrevo a história de toda uma vida, de toda a minha vida.
Recordo-me que nasci pequena, sem motivo aparente, mas com amor suficiente. Aprendi a andar, a completar sílabas, a formar palavras. Sabia o nome da mãe, do pai, da avó e do cãozinho lá de casa. Comecei a correr, sem chinelos nos pés. Brincava na lama, e estragava a cama. A mãe zangava-se e o pai protegia. Eu chorava e o primo mais velho criticava. Então, eu comecei a fechar-me no quarto com os meus amigos imaginários. Comecei a sorrir, a saber contar piadas. Fui para a escola e aprendi a ler. Com as letras, vieram as frases longas e os textos complexos. Vieram também as asneiras proibidas e os palavrões. Comecei a crescer demasiado. Uma borbulha aparecia-me na testa e outra no canto da bochecha. Deixei-me dos desenhos animados e das cantigas infantis. Ouvia música nas alturas e dançava feita maluca. Ultrapassei a altura da avó e depois a da mãe e senti-me superior a todos. Respondia mal, refilava com tudo. Não gostava deste mundo e muito menos do outro, até aparecer a toupeira que roubou o meu coração. Depois, nada mais importava. Até a desilusão chegar, claro. O mundo caiu-me em cima, o tecto desabou e o corpo "faleceu". Ultrapassei a dor, passado um tempo. Fiz o secundário todo e licenciei-me em psicologia, lá o curso que queria seguir. Acabei por encontrar outro alguém. Trocamos desejos ardentes e o tão falado amor verdadeiro. Casamos, tivemos um filho gordinho e outro alto como o pai. Depois nasceu a princesa que a mãe tanto mimou e outra que ninguém programou. O trabalho já cansava e os fins-de-semana eram como férias. Mais tarde, lá me apareceu o tal cabelo branco que tanto receava. Olhava-me ao espelho e não me sentia bonita. não dei pelo tempo passar e, perdi o marido. Vi-me, novamente, fechada no quarto, mas desta vez sem amigos imaginários. Sentia falta de um carinho, de uma palavra amiga e chorava sufocada. Os filhos, há semanas, que não os via. Estavam "ocupados" lá como diziam. E eu, sozinha, acompanhada pela solidão. Deu-me a dorzita nos rins. Nada de preocupante, pensei. Depois a picada na cabeça, e por fim, a picada no coração.
Mal acabo de ler, sorrio. É engraçado como meia dúzia de palavrinhas relatam oitenta e dois anos de uma vida repleta de sonhos, medos e memórias.

**

Andei perdida. Segui caminhos escuros cujas saídas eram incertas. Caí em buracos fundos, em lagos e em mares de mentiras. Deslizei por entre a vida, sempre sem saber o que estava a fazer. Procurei por alguém que me ajudasse, sem sucesso. Atravessei poças de desilusão, afoguei-me em charcos de sofrimento e continuei sempre sem rumo, sem destino. Até um raio de sol me encontrar. Segui-o em silêncio, na esperança de avistar o arco-íris. No fim da travessia, vi um rosto, um corpo. Avistei aquele que me devolveu a confiança e a força de viver. Observei-o e apaixonei-me. Ambos perdidos por este Mundo, encontramos o caminho de regresso para a felicidade.

**


Não é chuva, não são lágrimas. 
É apenas água. 
Água no estado líquido a cair do céu, a cair-me pela face. 
Não é gelo nem vapor, são apenas rios que se afastaram do mar.

**


Tremes sempre que te aproximas de mim, tremes sempre que o meu coração toca no teu, ou o meu corpo acaricia-te com delicadeza. Eu admiro-te com carinho e dá-me um arrepio daqueles que sabem verdadeiramente bem.


# Raio de sol*

O amor acontece, tenho esperança, e espero. Sabes porquê? Porque apenas quero que tudo dê certo. Porque sei que és a pessoa certa e nada parece mais certo do que ter-te ao meu lado. Eu espero, não só porque quero, mas também porque não sou capaz de te deixar ir.
Suavemente aparecem os primeiros raios de sol nesta manhã fria. Eu estou sentada na cama com uma caneta e um caderno entre-aberto. Ouço uma música de fundo não muito distante daqui. Reconheço a voz de Kurt Cobain. Enquanto fecho os olhos para apreciá-la, penso inexplicavelmente em ti e no quanto te tornaste mais especial do que aquilo que eu imaginei. Pergunto-me para mim mesma, será que ele gosta desta música? Provavelmente, respondo em voz alta. E neste preciso momento, sinto um arrepio, como se todo o desejo de te ter ao meu lado se estivesse a reflectir pelo meu corpo. Respiro fundo e tento controlar o meu coração. Ele já está aos pulos só de te imaginar aqui, só de pensar num abraço teu. É difícil explicar aquilo que sinto neste mero instante. Queria olhar no fundo dos teus olhos e dizer-te o quanto te adoro, mas não posso, não devo. Tenho medo mas anseio por esse dia. Secretamente sonho com o dia em que irei sorrir e rir contigo. Imagino o teu beijo, o teu toque, as tuas palavras. Apenas imagino-te aqui ao pé de mim. Sabes, falar contigo transmite-me um conforto que mais nada nem ninguém me transmite. Sempre que falo contigo a minha alma e o meu coração estão calmos, libertos do medo, da ansiedade e dos gritos da sociedade. Quando olho para ti e quando te oiço, o resto é uma sombra. Os gritos não me magoam os ouvidos, as desilusões não fazem os meus olhos transbordarem e os vazios são preenchidos. Tu completas-me de uma maneira linda. Tu és lindo. Não me refiro apenas a beleza física mas também à beleza que tens dentro de ti. É uma beleza única, pura e encantadora. Foi verdadeiramente bom ter-te encontrado, talvez a melhor coisa que me aconteceu ao longo deste ano. Tens sido como um pequeno raio de sol nos meus dias nublados. Tens sido tudo para mim e por isso peço-te para nunca me abandonares. Fica comigo, que eu estarei sempre contigo. Este sentimento é mútuo e eu sei disso, só espero que me leves sempre no teu peito, tal e qual como tu estás sempre no meu, a cada minuto, a cada segundo. Podes ir para onde quiseres, mas leva-me contigo. Podes estar onde quiseres, eu estarei lá contigo. Por onde tu andares serás a minha direcção. Junto a ti encaro tudo com um sorriso nos lábios, junto a ti não tenho medos, porque sei que aconteça o que acontecer estarás sempre aqui junto a mim para me ajudar e apoiar em tudo o que eu fizer, estarás em todos os momentos comigo para me segredar palavras de encantar ao ouvido. Eu agradeço-te por te teres tornado no meu sonho, e quem sabe na mais pura e perfeita realidade um dia destes. Nada acontece por acaso meu bem, e tu não és um acaso na minha vida mas sim o mais importante dos tesouros. Juntos nós somos inseparáveis. Juntos somos inquebraveis. Juntos conseguimos ultrapassar qualquer obstáculo e sabes porquê? Porque nos adoramos de verdade e porque és o rapaz mais maravilhoso que eu conheci ao longo da minha vida.

**

És livre como um colibri e meigo como um papagaio. És a borboleta que percorre as flores, mas no fundo és um pássaro que apenas quer fazer o ninho.

# Desabafo de uma prostituta*

Sabes, já me acostumei ao cheiro deles, e as mãos que eles posam em mim. Já percebi que sou apenas um objecto com o qual eles podem brincar durante aqueles minutos ou horas pelas quais pagam. Sou uma boneca de plástico, falsa e estritamente feita para lhes dar prazer. Mas eu, sabes, eu não sinto prazer nenhum. Simplesmente, tive que me acostumar a esta vida. Melhor dizendo, a esta miséria a que chamo vida. Na verdade, até não me posso queixar muito, eles tratam-me bem, dão me presentes e elogiam-me durante o dia todo, eles gostam de mim, mas sei que não é amor. Alias, nunca ninguém me amou, esta profissão desgraçou-me cedo de mais. Tive que aprender sozinha o quão difícil era a vida, e sobreviver é a única obrigação neste jogo de sedução. No início, acreditava que um dia alguém me ia salvar, alguém me ia libertar desta prisão  mas hoje, sei que já não há nada nem ninguém que me possa ajudar, estou presa neste Mundo onde as mulheres são brinquedos e onde os Homens são os donos delas.

**

Quadrado pintado de preto numa caderno quadriculado branco.
Eu sou o quadradinho preto no meio do livro da tua vida.

# Rosa selvagem*


Sentada na cozinha, com o prato ainda vazio, a rosa selvagem olhava para o infinito e sorria. Rosa selvagem era a alcunha que os seus pais lhe tinham dado quando ela tinha apenas três anos. 
Rosa porque ela possuía a beleza simples e tão natural das rosas, e selvagem porque ela não era carinhosa ou afectuosa como eram as outras crianças da sua idade. Ela era agressiva e pouco sociável. Vivia no mundo da lua, onde existiam amigos com quem ela brincava. Mas no mundo da Terra, ela estava sozinha, não tinha ninguém. Rosa era considerada como sendo uma pessoa bizarra, ácida e maluca. Ela não se importava com isso, ela era feliz sendo assim. 

**

Anda. Aproxima-te. Estou aqui, provo um pedaço do bolo que fiz esta manhã. Cortei um fatia leve, só mesmo para provar se era tão bom como os que tu fazes para mim. Sabes de que é? Chocolate. É doce e contagiante, um pouco como tu. Sim, és o meu chocolate. Aquele que eu quero devorar todos os dias, a cada instante e sem ter medo de engordar. Quero-te constantemente por perto. A verdade é que ninguém resiste a um bom chocolate, e eu também não te resisto meu querido docinho. Estou na cozinha a tua espera, anda rápido que o bolo está com vontade que o proves e que te deixes levar pelo seu sabor único, aquilo que é só nosso.

**

A batida da música, a batida do coração. É um ritmo lento, provavelmente guitarra clássica e piano. Nada de novo, mas tudo diferente. Vontade de cantar e desejo de dançar. Sonho ou realidade? Apenas saudade.

**

E a história repete-se. As lágrimas voltam a cair e o coração novamente fraqueja. 
A menina risonha tornou-se tristonha, tão triste que já nem sonha.

# Fumo reconfortante*

Estou na casa da avó, sentada no alpendre contemplando o céu estrelado. Não está frio, não está calor. Eu estou bem. Enquanto escrevo, ouço o som do vento que lentamente sopra e fumo o último cigarro do dia. Estou estranha, sinto tanta vontade de abraçar um desconhecido e beijar um pássaro. Se calhar preciso mesmo de ti. Talvez o fumo me tenha baralhado as ideias, talvez me tenha confundido as emoções, não sei. Aquilo que sei, é que necessito de voar daqui para fora. Tenho que arranjar asas e libertar-me do que me prende aqui, alias, do que me prendia aqui, porque hoje, já não existe nada. 
Nada a não ser cinza no chão, fumo no ar e beatas no lixo.

**

Vou beber chá e comer um biscoito de água e sal, daqueles baratos e sem sabor. Vou-me fechar no meu quarto e hibernar. Chegou o Inverno e trouxe com ele o frio. Frio este, que só o mais quente dos fogos consegue aquecer. Tenho o corpo gélido e a alma atormentada.

**

Não te conheço, mas percebo-te.
Não te vejo, mas imagino-te.
Não te tenho, mas quero-te.

# Perdeste-me*


Espero. Espero mesmo que todos os dias da tua vida, quando deitares a cabeça na almofada, penses em mim. Sinceramente, espero que te odeies por isso. Por não me esqueceres, por não conseguires não pensar em mim.
Vais conhecer quarenta raparigas numa noite só, vais ficar com o número de telemóvel de vinte, vais ligar para dez e acabas por ir para a cama com cinco. Mas, quando fores dormir, antes de conseguires adormecer, vais pensar em mim, vais lembrar-te do meu sorriso, do meu jeito arrogante e doce de ser, e aí vais pensar no quanto essa tua vida liberal não te serve de nada, porque a cada fim de noite quando te deitas ao comprido por baixo dos cobertores, percebes o quão patético conseguiste ser em deixar-me ir embora. Vais deitar-te e sentir-te um lixo porque saíste, bebeste toda a noite e abusaste de todas, mas no fim do dia foi inevitável não pensares em mim. E sabes porquê? Porque nessa tua merda de vida, a única coisa que te fazia realmente sentir vivo e feliz era eu, e tu deixaste-me escapar-te por entre os dedos. Nunca pensaste que ias sentir a minha falta pois não? Nunca pensaste que o teu único pensamento seria eu, esta rapariga que amaste como ninguém e trocaste por noites de prazer. Não te arrependas, a escolha foi tua. Tu apenas fizeste a escolha errada. E logo a noite, quando estiveres preste a fechar os olhos, vais novamente pensar em mim e aí sentiras um aperto enorme no fundo do peito por me teres perdido de vez. 

**

Eu já tive o coração completamente desfeito, e sabem o que é o pior nessa dor? É que não há nada a fazer, simplesmente, tentar continuar a sorrir, a lutar apesar do desgosto que se sente.

# Amor que morre*


Uma explosão estrondosa fez-se ouvir por toda a parte. De seguida, foram gritos e pedidos de ajuda. A luz deixou de funcionar e o mundo ficou todo às escuras durante aquele mero instante. Os trovões eram cada vez mais fortes e a chuva mais intensa. Era o tal sinal do perigo a aproximar-se não era? Bem, mais uma vez armei-me em forte e ignorei tudo à minha volta. Vesti apressadamente umas botas e o casaco quente do pai. Corri à rua, assim, sem pentear o cabelo e com o pijama ainda vestido. Como eu, estavam outras tantas ali a tentar perceber o que tinha acontecido e entender o motivo do ruído que não parava de aumentar. Subitamente, todos perceberam o que acontecera minutos antes. O amor acabara de explodir, deixando o mundo desfeito em lágrimas e de pernas para o ar. 
De um dia para outro tudo mudou…
De um dia para o outro, acordas e ele já não está ao teu lado. Finges que não te importas, que não sentes falta, que não custa aprender a lidar com a sua ausência, mas enganas-te a ti própria, mentes-te a ti mesma. Não sentes propriamente falta dele, mas sim da rotina que tinham construído juntos. Falta-te o beijo de bom dia, a mensagem querida por volta das dez horas e a chamada inesperada antes de adormeceres. Já não tens aqueles mimos, aquela preocupação, nem aquele cuidado específico de quem ama, e isso deixa-te triste. Sentes-te só e abandonada no meio de nada. A solidão pesa muito mais do que a falta que ela faz na tua vida. O amor morreu, mas a necessidade dele não desapareceu por enquanto.

**

Está frio cá fora, parece que se está a preparar uma tempestade e eu tenho medo que o vento me leve de novo até ti. Eu bem sei que o meu maior desejo é estar ao teu lado a abraçar-te, no entanto, isso não passa de um sonho. Um sonho que já vivi outrora, mas que hoje receio intensamente.

# Sou pequena*

Tens razão, eu sou pequena, no entanto o meu órgão principal é demasiado grande para este meu corpo. Não, não me estou a referir ao tamanho do meu peito, nem do meu rabo, mas sim ao coração. Eu, a rapariga de olhos castanhos, tenho o coração do tamanho do Mundo, e é isso que faz com que sofra tanto. Sou demasiado sensível, acredito só e apenas no bom do ser humano, na bondade desta raça que é nossa, mas, nem tudo é assim, infelizmente. Tenho que aprender a não confiar nas pessoas, assim de certeza que elas não me irão desiludir tão facilmente. Sim, as desilusões de que já fui alvo, e as de quais fui autora, fazem com as palavras me sejam mais difíceis de acreditar. Duvido de todas as sílabas, virgulas e pontos finais. A minha confiança está a preço de ouro. Porém quando confio, dou todo o meu coração. Talvez o problema seja mesmo esse. Dou demasiado de mim, e dou de olhos fechados. Mas chega sempre um dia em que abro os olhos, acordo do sonho, e a realidade é outra, lembra-te disto.

# Marcas em mim*


Sentados no meio da estrada, em pleno dia de outono, observávamo-nos um ao outro como se fosse a primeira vez que nos víamos. Fitávamo-nos em silêncio quando reparei que ele tinha uma pequena cicatriz no canto inferior do olho direito. Algo que apenas quem estivesse realmente atento conseguia ver. Passei lentamente a minha mão pelo seu rosto, acariciei-o e acabei por perguntar o que lhe tinha acontecido. Ele corou um pouco e em vez de me responder, optou por outra pergunta. Perguntou-me, se eu possuía alguma cicatriz. Também não respondi. Levantei a camisola branca que tinha vestido naquela manhã fria, e mostrei-lhe.
 - Podes tocar – disse-lhe sorrindo. 
Ele observou lentamente aquela marca cravada no meio dos meus seios e passou a mão pelo meu peito. Agarrou-me pela mão e suavemente disse:
- Foi um cão e tu?
- Foi um homem! – Respondi já com lágrimas a formarem-se.
Ele beijou-me a face e jurou que mais nenhum homem me iria magoar, e eu prometi-lhe que ia afastar todos os tipos de cães da sua vida.

**

É estranho e verdadeiramente triste não é? Dois seres que se amam e não se falam. Passam um pelo outro, fitam-se em silêncio e continuam a caminhar cada um para o seu lado como se não se conhecessem, como se nunca se tivessem amado. O orgulho é tanto que nem o amor supera.

**

«Quem vê caras, não vê corações.»
 Odeio esta frase e sabem porquê? Porque é a frase mais verdadeira que já alguma vez ouvi.

**


Somos pessoas diferentes, com idades, sonhos, desejos, experiências e amigos diferentes. Sou eu aqui, e tu aí, alimentados por um amor impossível de explicar, algo de irracional e perigoso. Temos tudo para dar errado, mas porque não tentar que dê certo?

# Cantar pela vida*


Durante aquela tarde fria, foram vários os senhores idosos que por mim passaram. Alguns apressados, apenas vinham relaxar um pouco a pressão constante da cidade, outros mais calmos, paravam durante horas. Tomavam um café bem quente, liam o jornal e aproveitavam para pôr a conversa em dia. Falavam de política. Todos criticavam o governo, queixavam-se da crise, bem como do estado deplorável do nosso país. Discutiam futebol, comentavam as notícias e histórias de vida de cada um. Porém, um senhor já visivelmente de bastante idade permanecia em silêncio durante a tarde toda. Ele apenas bebera o seu chá e não fizera mais nada a não ser olhar para a igreja que se situava há poucos metros de nós. Intrigada, perguntei-lhe se estava a sentir-se bem. Do nada, ele levantou-se, pegou na minha mão e levou-me com ele. Sem saber o que fazer ou sequer dizer, segui-o com curiosidade. Caminhávamos devagar quando subitamente, ele parou. Sentou-se num banco de madeira junto ao adro da igreja e começou a cantar. Uma voz grave e intensa saía daquela boca. Fiquei hipnotizada por aquele canto que numa língua desconhecida me transmitia algo de tão comum, o amor pela vida. Mal ele acabou a sua música, peguei na sua mão e começamos a dançar ali mesmo, sem música mas com muita felicidade.

**

Sempre me disseste que quando eu estivesse triste com o mundo, desiludida com a vida ou apenas sentisse a tua falta, para eu olhar para o céu que tu estarias a olhar também. 
Estou aqui, sentada na varanda a olhar para a lua, e tu estás aí há mais de mil e setecentos quilómetros de mim a olhar para o sol.

**


Hoje deu uma vontade enorme de te ter aqui ao pé de mim. Uma vontade de um abraço apertado, um beijo demorado e de ouvir a tua voz. Vontade de te fazer sorrir e de rir às gargalhadas das tuas piadas secas, das brincadeiras que me irritam, das cocegas que me fazes. Vontade de me deitar contigo, de falar sobre o futuro, e de parar o tempo.

**


E quando me perguntarem se é contigo que eu quero ficar, sem mas nem porquês, sem causas ou explicações, eu vou dizer que sim. Dizer que sim, certamente. Porque contigo deixei de entender e passei a sentir, passei a viver, em vez de existir.

# Fugir*


Há dias em que sinto necessidade de abandonar todas as minhas roupas usadas, aquelas que já têm a forma do meu corpo, aquelas que trazem com elas recordações e memórias. Preciso de fugir da civilização e refugiar-me na floresta, sozinha com o vento. Quero isolar-me de tudo o que me foi importante. Procuro a paz, o silêncio e os sons do desconhecido.
 Não tenho medo que apareça por cá lobos, eles já não me assustam, muito menos os ursos disfarçados de homens. Nesta floresta o perigo é menor do que no mundo real. Aqui ninguém me faz mal, ninguém me julga, apenas sobrevivemos juntos.

**


- Deste o nó? – Perguntou-me ele a sorrir.
Ri-me, e corada respondi – Sim dei. Apertei os cordões esta manhã!

# Diz-me*


Olha para mim! Olha no fundo dos meus olhos e diz-me que consegues ver que dentro de mim existe aquela pessoa frágil, carente, idiota, sensível de mais e completamente louca e apaixonada por ti. Consegues ver? Eu sei que consegues, e sei que sabes que só sou assim contigo. Chega perto de mim, só um pouco mais perto, vem. Consegues ouvir o meu grito pedindo para me amares? Pedindo-te para me olhares? Sim, assim mesmo, do jeito que eu estou, sem maquilhagem, de pijama e sem sequer pentear o cabelo. Ouve o meu grito e responde-me que nunca me vais deixar, que necessitas de mim no teu dia-a-dia, que precisas do meu riso maluco, da minha voz estridente e do meu jeito histérico de te amar incondicionalmente. Diz-me simplesmente, que eu sou aquela que sempre desejaste, que mesmo com todos os meus defeitos, só consegues amar-me a mim e a mais ninguém.

Seguidores*