# Luz, acção*

Faltam cerca de duas horas para o espectáculo começar. Ela entra pela primeira vez no átrio. Treme pelo corpo todo. Talvez seja do frio, talvez do nervosismo. Talvez ambos. O ensaio geral prepara-se lentamente, os técnicos organizam a sala, as luzes começam a vacilar e a música a tocar. O ambiente faz-se tenso e pesado. Escondida atrás da cortina vermelha, ela fita em silêncio a sala que se estende diante dela. Dentro de poucos minutos, esta sala encherá e terá mais de mil pessoas a contemplarem o seu rosto, os seus gestos, a sua roupa. A verdade é que isso não a assustava, ela não temia o público, mas sim a ausência de um espectador nesse público. Havia um lugar vazio, o lugar que ela observava sistematicamente, já há horas que permanecia sem ninguém. A música suavemente desperta, e com ela, todos os olhares se posam sobre a jovem. A jovem de olhos escuros dança, dança e dança. Quando a actuação chega ao fim, ela sente-se terrivelmente cansada, está petrificada em cima do palco e comovida de tantas emoções. Levanta aos poucos os olhos para os espectadores, eles levantam-se para ela, ouve-se assobios e aplausos. Ela sorri, e subitamente descobre que ele esta ali, de pé e a sorrir também. 

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