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Olhaste-me decididamente, como se a tua existência dependesse daquele instante. Não pestanejavas, nem tão-pouco desviavas o olhar de mim. Senti-me tremer, não sei ao certo se do frio ou da proximidade dos nossos corpos. Vi-te aproximar ainda mais, estremeci de novo. Estendeste-me o teu braço e eu agarrei-te, sem medo. Abraçamo-nos primeiramente de leve e logo de seguida, com todas as nossas forças. Era o abraço que ambos sonhamos durante a semana inteira, aquele que ambos exigíamos um do outro. Apertava-te contra mim cada vez mais forte, não desejava que me largasse e muito menos, queria soltar-te. Sentia o pulsar do teu coração. O ritmo era violento, descontrolado, um pouco como nós. Respirei fundo e afaguei os teus cabelos despenteados. Veio-me o cheiro do teu shampoo. Desejei beijar-te, desejei ficar ali para sempre. Contudo largamo-nos. Separamo-nos e ficamos estáticos, um ao lado do outro, com os pés húmidos de um chão ainda mais molhado do que os meus próprios olhos. Queria que me beijasses, queria que me dissesses que me amavas. Pedi um milagre naquele momento. Começamos a andar com um passo decidido em direção ao teu carro. Estava frio mas eu senti-me ferver por dentro. Sabia que já nem um prodígio me salvaria. Fitei em silêncio a escuridão daquela noite. Prendia as lágrimas sistematicamente, quando senti um suave toque no ombro. Pensei que fosse apenas uma reação descontrolada do meu corpo e não me mexi. No entanto, o toque aumentou de intensidade. Não havia dúvidas possíveis. Eras tu que me estavas a confrontar. Timidamente, virei-me para ti, e sem esperanças, o inesperado aconteceu. Beijaste-me. Os teus lábios trémulos sabiam a amor. Foi um beijo ofegante, um beijo de paixão, um beijo que significava tudo menos uma despedida. Mas despediste-te e foste-te embora, levando contigo o meu beijo de eterno e imutável amor.

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