# Pequeno lar*

Era um pequeno jardim repleto de rosas vermelhas, cravos e camélias brancas. Ao longe, conseguia entrever um lar iluminado apenas pelo luar e escondido por detrás de um velho sobreiro. Era uma casa antiga. Estava preenchida por memórias de um passado longínquo e misterioso. Era aquilo que ele outrora abandonara com medo de morar perto do lago da verdade. Cheirava a flores silvestres e a frutos proibidos. Havia um aroma exótico e ao mesmo tempo demasiado doce para penetrar naquele cantinho de vida de um vez só. Não sei ao certo quanto tempo passara desde que ele deixara de vez esta pequena habitação. Olhando para as persianas, avistava uma camada espessa de pó e teias de aranhas, diria talvez que demasiado tempo se tinha passado desde a sua última visita. Atrevi-me a aproximar-me da porta de entrada, tentei abri-la mas faltava-me a força necessária para entrar assim, sem autorização. Ele estava ao meu lado, os olhos cheios de pequenas gotas de um líquido incolor e salgado, lágrimas, deduzi. Será que este reencontro estará a doer-lhe assim tanto? Temia com todo o meu ser que ele se fechasse, que ele me empurrasse de novo para longe, mas ele deteve-se e pegou na minha mão molhada devido aos nervos e ao calor desta noite de verão. Levou-me para o lado oposto da casa. Lá, estendia-se uma relva perfeitamente cortada e alinhada, como se o tempo se tivesse esquecido de passar por aquela imaculada parte. Ele deitou-se lentamente na relva, respirando o ar puro e singelo que nos vinha acariciando as faces, puxou-me para junto dele, e deitei-me ao seu lado, tranquilizada. Ficamos ali, estendidos num lugar onde as memórias doíam e onde unicamente a verdade curava. Não nos mexíamos, não falávamos, estávamos juntos e isso bastava para conseguir aguentar com os fantasmas de um passado. 

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