# Marcas em mim*


Sentados no meio da estrada, em pleno dia de outono, observávamo-nos um ao outro como se fosse a primeira vez que nos víamos. Fitávamo-nos em silêncio quando reparei que ele tinha uma pequena cicatriz no canto inferior do olho direito. Algo que apenas quem estivesse realmente atento conseguia ver. Passei lentamente a minha mão pelo seu rosto, acariciei-o e acabei por perguntar o que lhe tinha acontecido. Ele corou um pouco e em vez de me responder, optou por outra pergunta. Perguntou-me, se eu possuía alguma cicatriz. Também não respondi. Levantei a camisola branca que tinha vestido naquela manhã fria, e mostrei-lhe.
 - Podes tocar – disse-lhe sorrindo. 
Ele observou lentamente aquela marca cravada no meio dos meus seios e passou a mão pelo meu peito. Agarrou-me pela mão e suavemente disse:
- Foi um cão e tu?
- Foi um homem! – Respondi já com lágrimas a formarem-se.
Ele beijou-me a face e jurou que mais nenhum homem me iria magoar, e eu prometi-lhe que ia afastar todos os tipos de cães da sua vida.

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