# Passado, volta*

Parei. Olhei à minha volta, não havia ali mais ninguém a não ser eu, eu e os meus pensamentos. Estava a chover, não muito, mas o suficiente para, aos poucos me ir encharcando a roupa. O ar estava bastante fresco e ainda tinha bastante que andar até casa. Estava a ficar escuro, mas isso não foi motivação suficiente para me fazer abandonar aquele local. Este lugar que tantas lembranças felizes me trouxe, porém hoje, essas lembranças felizes deixam-me bastante triste. Irónico não?

 Desviei-me do caminho, e fui-me aproximando do lugar, do nosso cantinho. A cada passo, sentia o meu coração a reduzir o volume, como se acabasse por rebentar ou desaparecer de vez. Era constrangedor saber que o sítio onde passara os momentos mais felizes da minha vida, era hoje aquele que mais me atormentava a alma, e me deixava com saudades. Maldita sensação de vazio, malditas saudades.

Respirei fundo e entrei. Conseguia sentir o cheiro do mar misturado com o cheiro que outrora representava o nosso amor. Este cheiro era aquele que os nossos corpos expeliam após uma noite de amor, após uma tarde de prazer ou uma manhã de carinho. A emoção começou a tomar conta de mim e aos poucos já não conseguia parar de pensar nos nossos momentos. Nas nossas idas a praia, passeando de mão dada junto ao mar, ou no castelo. As nossas brincadeiras, as nossas gargalhadas, os nossos beijos e outras maluquices invadiram o meu ser e de repente, quis que tudo tivesse continuado, quis correr até a tua casa e beijar-te, pedindo para voltarmos, para esquecermos o passado e continuar a viver os nossos sonhos juntos. Quis ser de novo a tua menina, aquela que te fazia feliz e com quem os teus olhos tinham um brilho diferente, o brilho de quem ama, mas fiquei ali, petrificada perante o nosso passado e gritei com todas as minhas forças por ti, numa última tentativa de te ter ao pé de mim.