# Fogo*

Tu foste fogo para mim. Ardeste de forma tão viva e com uma chama tão quente e deslumbrante. Dizem que quem brinca com o fogo queima-se, e eu acabei por me queimar. Foi uma queimadura simples, apenas aqueceu um pouco a epiderme mas deixou sequelas para a vida inteira. São marcas não visíveis a olho nu nem ao tato mas tão profundas por dentro. Admito que de vez em quando apetecia-me voltar a sentir o teu calor, voltar a aproximar-me do teu corpo ardente, mas sei que seria um erro. O fogo é algo perigoso, incontrolável e que acaba por matar lentamente. Eu tenho medo de ti. Sim, tinha medo de passar por perto e que a brasa não esteja definitivamente apagada, mas hoje, apercebi-me que não passas de cinzas. Cinzas negras de algo que queimei e não vou voltar a desejar mais nunca perto de mim. Decidi deixar-te para os bombeiros, eles talvez saibam melhor com lidar contigo. Eu não possuo o material adequado para te manter aceso ou então para te apagar quando achar o momento oportuno. Simplesmente, eu deixei de querer algo quente e passei a desejar o gelo. Talvez um icebergue seja adequado para mim, talvez uma beleza fria e mais escondida me compreenda melhor.

 Adeus fogo, e peço-te mantém a tua chama acesa mas não queimes quem se queira aproximar. Eu vou partir a conquista do meu gelo e quando o encontrar talvez te vá visitar para ver como estás lá no teu mundo onde, jamais serei de novo a chaminé onde arderás.